Na tarde da última quarta-feira, (12/7), foi realizada audiência pública para debater a violência sofrida pelos profissionais da saúde. O debate ocorreu na Assembleia Legislativa, com a presença de parlamentares e representantes sindicais.
A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Ceará (Senece), Telma Cordeiro, compõs a mesa e abriu sua fala pontuando, principalmente, a ausência de políticas de proteção aos trabalhadores como um fator determinante para o aumento de denúncias de violência registradas nos locais de trabalho. “Recentemente, as denúncias nos setores de classe, com o Sindicato, vêm aumentando a cada dia. No acompanhamento destes casos, percebemos total despreparo para lidar com o assunto, principalmente, por parte das delegacias ao ser registrado boletim de ocorrência. Existe um certo descrédito quando a denúncia é uma agressão a um trabalhador de saúde”.
Segundo uma pesquisa realizada, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2017, pelo Conselho de Enfermagem de São Paulo, 54% dos profissionais de enfermagem já sofreram violência nos locais de trabalho. Destes, 57% estão ligados ao SUS. Os tipos de violência são física, verbal e psicológica. Boa parte sofrida por colegas de trabalho, chefias, familiares e acompanhantes de pacientes. A precarização nos serviços de saúde oferecidos à população e a culpa por um desserviço, sempre recaem nos profissionais da saúde.
A Pesquisa revela ainda que apenas 35% dos profissionais vitimados registraram algum tipo de violência. Dos casos registrados, 82,6% não foram tomadas nenhuma atitude e 62,7% continuaram no seu local de trabalho. O medo de perder o emprego e a falta de política de proteção às vítimas, ainda são grandes obstáculos na decisão em quebrar o silêncio e dar um basta à violência sofrida.
Telma Cordeiro, no intuito de provocar uma maior reflexão, indagou perguntas aos presentes: “Será que a culpa é destes profissionais” ? e levantou ainda fatos que revelam que a classe de trabalhadores do país, vem sendo o alvo de gestões maléficas. “Os trabalhadores do país estão pagando a conta de déficit de gestão nas principais capitais do país. No cenário atual, a retirada brusca de direitos trabalhistas já conquistados tramitam com o apoio de parlamentares, como a reforma trabalhista e a previdenciária, mesmo sem ser levado em consideração um forte apelo social para que recuem diante de tanto retrocessos. Na gestão estadual do Ceará e a municipal de Fortaleza também recaem esta culpa, quando não são assegurados reajustes salariais e garantias de direitos”. Afirmou.
A presidente concluiu sua participação defendendo uma saúde pública com mais qualidade. “Na saúde pública, onde se concentram os maiores índices de violência sofrida pelos profissionais da saúde, boa parte por usuários do sistema, poderiam ser resolvidos se os serviços em saúde fossem administrados com mais qualidade e compromisso com profissionais e usuários do SUS. Os servidores da rede pública também são os que mais sofrem com retiradas de direitos”. Concluiu.
No final da audiência foi deliberada a criação de um núcleo da Sesa para o acolhimento dos casos, o projeto de uma delegacia específica para as denúncias e o registro de fichas específicas para fins estatísticos. Em breve será feita nova reunião para a continuidade dos trabalhos.