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Carta à Florence Nightingale, por Roberta Meneses Oliveira

 

 

 

Linda homenagem à Florence Nightingale escrita pela enfermeira Roberta Meneses Oliveira. Vale a pena conferir!

 

“UMA CARTA À FLORENCE NIGHTINGALE” 

 

 Nunca havia pensado tanto em você, Florence Nightingale! Sim, você, Florence, que mulher, que enfermeira, que educadora, que cientista!

 Por que penso tanto em você ultimamente?

 Porque foi você que, em meio a uma guerra com altíssima taxa de mortalidade, conseguiu reverter tudo e salvar vidas, pelo simples ato repetidamente ensinado e praticado: higienização das mãos.

Mas não foi só isso que ensinou para as enfermeiras da época.

Foi você quem planejou e instituiu o cuidado ambiental, pensando na importância do ar puro, da água limpa, das condições mínimas para que o cuidado fosse o mais efetivo e seguro possível.

Foi você, Florence, a primeira enfermeira do mundo que descreveu procedimentos e cuidados relacionados aos pacientes e ao ambiente com a finalidade de diminuir os riscos da infecção hospitalar.

Lembra que você solicitava que as enfermeiras mantivessem um sistema de relato dos óbitos hospitalares com o objetivo de avaliar o serviço?

Essa atitude provavelmente constituiu-se na primeira referência à vigilância epidemiológica, tão usada atualmente nos Programas de Controle de Infecção Hospitalar.

E veja só, uma referência que estamos a toda hora acompanhando, quando esperamos ansiosamente a divulgação dos casos novos, quantas mortes, quantos doentes, curva ascendente, achatamento de curva…tudo isso, Florence, você deixou pra gente!

Lembra que, em 1854, você e mais 38 enfermeiras foram designadas para o hospital de base de Scutari, em Constantinopla, atual Istambul? ficando responsáveis por 1500 pacientes?

Durante o conflito entre a Rússia e as forças aliadas da Inglaterra, França e Turquia, o hospital chegava a ter de 3.000 a 4.000 doentes e feridos de guerra. O hospital apresentava péssimas condições: não existiam sanitários, os leitos e roupas de cama eram insuficientes, não havia bacia, sabão ou toalhas, as pessoas comiam com as mãos e a taxa de mortalidade era de 42%. Você, então, abriu cozinhas, lavanderias, melhorou as condições sanitárias, e fazia rondas à noite levando assistência e conforto aos pacientes. Reduziu, assim, as taxas de mortalidade de 42,7% para 2,2%. Em vista disso, após a guerra da Criméia, retornou a Londres como heroína, e em 1860 inaugurou “The Nightingale School for Nurse”. Publicou mais de 100 trabalhos, sendo “Notes on Nursing” o mais valioso.

Após suas observações, valorizaram-se pacientes e condições ambientais como: limpeza, iluminação natural, ventilação, odores, calor, ruidos, sistema de esgoto, mais do que simplesmente a estética.

É valido referir, que no século XIX os hospitais eram desprovidos de água corrente e a de que dispunham era contaminada. Lixos e dejetos eram jogados em poços nos fundos dos terrenos, os cirurgiões limpavam suas mãos e instrumentos nos seus aventais e as roupas de cama não eram trocadas com freqüência, facilitando a transmissão de doenças.

Na guerra da Criméia (1854-1855), você postulou sobre a importância de pequenas enfermarias, ligadas por corredores abertos. Da mesma forma, pregou a necessidade de ambientes assépticos e muito limpos bem como explicitou a transmissão da infecção especialmente por contato com substâncias orgânicas.

Em vista disso, organizou treinamento para as enfermeiras sobre limpeza e desinfecção e orientou a construção de hospitais de maneira a possibilitar maior separação entre os pacientes.

É por isso, Florence, que tenho orgulho de você, que me orgulho da profissão que escolhi, que sou grata a Deus por ser ENFERMEIRA.

⛔ No entanto Florence, estamos na linha de frente enfrentando todos os desafios, todas as dificuldades, toda a falta de estrutura, de materiais e equipamentos. E a verdade é que não podemos aceitar tudo isso de braços cruzados. Essa situação precisa mudar!!

Até hoje, estamos lutando contra o desespero, o descontrole, a ansiedade e o pânico. Hoje, principalmente, com essa pandemia chamada COVID-19.

Temos resistido tanto, tanto, que você nem imagina! Pois nosso PROPÓSITO É E SEMPRE FOI CUIDAR DO SER HUMANO, NA SAÚDE E NA DOENÇA. PROMOVENDO SAÚDE E SALVANDO VIDAS. Mas até onde iremos suportar?⛔

Continuaremos firmes, Florence, porque temos a certeza de que essa CRISE passará. Temos a certeza de que aprenderemos TANTO com você que nunca mais seremos as mesmas pessoas e os mesmos enfermeiros que éramos antes.

Hoje, os enfermeiros de todo o mundo, junto com suas equipes de técnicos, auxiliares, e colegas médicos, fisioterapeutas, técnicos de RX, psicólogos, farmacêuticos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, nutricionistas, dentre outros, encontram-se unidos em um mesmo objetivo: SALVAR VIDAS!!

Nunca higienizamos tanto as mãos, nunca cuidamos tanto da higiene pessoal antes de ir e chegar do trabalho, nunca fomos tão atentos às normas e protocolos  de controle de infecção, nunca tivemos tanto medo, mas também nunca estivemos tão unidos e esperançosos de que sairemos dessa VIVOS e SAUDÁVEIS.

MAS PRECISAMOS DE CUIDADOS QUE VENHAM DOS OUTROS: DA POPULAÇÃO, DOS POLÍTICOS, DOS GESTORES, DOS NOSSOS COLEGAS,  FAMILIARES,  DE TODA A POPULAÇÃO.

Sou grata por ser ENFERMEIRA e poder ajudar as pessoas com orientações, cuidados, assistência digna e de qualidade, com toda a segurança possível.

Que Deus abençoe a todos os profissionais de saúde, de todo o mundo, na luta contra essa pandemia!

Sairemos dessa, com certeza!

Florence, ajuda aí de cima!

Roberta Meneses Oliveira

Universidade Federal do Ceará. Departamento de Enfermagem 

 

Referência:

Fontana Rosane Teresinha. As infecções hospitalares e a evolução histórica das infecções. Rev. bras. enferm.                [Internet]. 2006;  59(5):703-6.

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